Notícia
“O sindicato deve zelar por uma qualidade de ensino”
Presidente do Sinepe/MA por 30 anos, professor Figueiredo acredita que a educação é uma missão e que as escolas precisam estar em constante atualização para acompanhar as mudanças da sociedade
Por 30 anos, Raimundo Soares Figueiredo encabeçou a luta por uma educação de qualidade no estado do Maranhão. À frente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado do Maranhão (Sinepe/MA) de 1984, quando a entidade ainda era uma associação, a 2014, quando foi sucedido por Paulino Delmar Rodrigues Pereira, professor Figueiredo protagonizou movimentos, idealizou ações e foi testemunha da história maranhense, em especial do setor educacional.
Defensor da ideia de educação como missão e da possibilidade da cobrança justa por um ensino de qualidade, acredita que o sindicato é uma entidade injustiçada, pois não tem como propósito primeiro a defesa de interesses próprios, mas sim o estímulo de uma educação inovadora e de excelência. “Lamentavelmente, mesmo com todos os esforços dos gestores, a educação pública não tem a mesma qualidade. Por isso muitas famílias que têm condições de investir buscam o ensino particular”, justifica.
Professor Figueiredo vivenciou muitas mudanças. Desde aquelas referentes à legislação, até as discussões de novos direcionamentos em sala de aula e aparecimento de ferramentas didáticas, sempre reconheceu o papel social de formação das gerações. Ele acredita que as escolas precisam estar à frente do seu tempo. “Nosso desafio é este, gestores de escolas e professores precisam acompanhar o dia a dia, para que tenham uma razão das escolas existirem”, afirma.
Confira uma entrevista exclusiva com o professor Figueiredo
Qual é a sua principal memória do início do sindicato, em 1984, quando iniciou sua construção?
Não posso falar desta época sem lembrar da figura do professor Luiz Rego, diretor do Colégio São Luís e presidente da Academia Maranhense de Letras. Era um lutador pela escola particular, embora a escola particular não seja vista sempre com bons olhos. Mas a preocupação sempre foi oferecer o melhor. Recebemos essa ideia de sindicato, essa ideia de reunir e congregar, de dar força à escola vem deste o tempo dele. Nós organizamos primeiro a Associação Profissional dos Estabelecimentos de Ensino, isso em 1984. Depois de algum tempo, com a ajuda da Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen), fomos estimulados a criar o sindicato e congregar mais escolas. A filiação ao sindicato não é obrigatória, embora exista para defender o interesse das escolas da iniciativa privada. Pena que algumas, até hoje, não entendam a função do sindicato. A preocupação sempre é procurar fazer um ensino de qualidade. Muitos entendem que a ideia é defender interesses visando benefícios próprios, mas nossa preocupação sempre foi congregar para estimular a fazer um ensino de qualidade.
A escola particular do Maranhão é uma escola acreditada. Lamentavelmente, mesmo com esforços dos gestores públicos, a escola pública não oferece a mesma qualidade e não tem a preferência das famílias que têm alguma condição de investir na educação dos seus filhos. Nosso desafio é esse, que a escola particular continue se esforçando para oferecer o melhor. Não cobrar por cobrar uma mensalidade - como alguns disseram ‘para enriquecer donos de escolas’ -, mas pagar um justo preço e cobrar para ter um ensino de qualidade. Insisto no caso do Maranhão, que continua a corresponder às expectativas das famílias.
Os desafios ainda persistem? O que enxerga como meta para o sindicato hoje?
A própria sociedade não para, ela evolui, ela exige cada vez mais. Hoje, mais do que nunca, a escola particular tem uma responsabilidade muito grande na formação dos filhos. Os alunos de hoje não são os mesmos de três anos atrás, imagine de 10 anos atrás. Os alunos são questionadores. Tenho uma filha que dirige uma escola e ela sempre diz aos professores “Olha, vocês não podem ficar atrás dos alunos, que estão passando na frente. Procure oferecer o máximo que puderem, para eles verem alguma razão de estar na escola”. Hoje, com a internet e com toda a tecnologia à disposição, talvez não fosse nem preciso ir à escola. Aliás, algumas famílias em Goiás preferem educar os filhos em casa. São poucas, isso não é regra. A escola continua sendo uma necessidade para as famílias. Os pais trabalham, muitas vezes, o dia todo e têm entregar seus filhos a uma boa instituição de ensino, para que possam receber o melhor. Nosso desafio é este que gestores escolas e professores estejam acompanhando o dia a dia, para que tenham uma razão das escolas existirem.
Algumas famílias tentam transferir para a escola o papel de educar. Outras dividem esse papel. Os papeis, afinal, se dividem ou se complementam?
Estou aposentado, mas ainda lido com educação, tenho filhas educadoras. Os gestores têm de se preocupar em atualizar seus conhecimentos, em inovar, não dá para ficar na mesmice. As vezes, os professores se acomodam, mas a formação continuada é uma necessidade. As escolas devem estar vigiantes e acompanhando seus professores, não se deve entregar todo o trabalho para eles.
Os pais são os primeiros educadores dos filhos. O mundo mudou. Antigamente, os meninos só iam para escola com cinco anos. Lá no Batista, só recebíamos com essa idade. Hoje, os pais trabalham o dia todo, e muitos preferem entregar para alguém de confiança, do que deixar com babá que não tem uma formação. Mas continuo insistindo, pais não devem entregar essa missão de todo. Embora trabalhe, deve ter uma hora para o filho. Têm que acompanhar a atividade dos filhos na escola. Nenhum educador deve abrir mão da participação da família nesse processo, a escola não pode assumir esse papel sozinha. A escola faz sua parte, mas os pais são os primeiros educadores dos filhos.
O senhor disse que escola tem o papel fundamental de oferecer ensino de qualidade. Onde entra o papel do sindicato para incentivar a manter essa missão?
O sindicato faz essa interferência à distância, através de orientação. Não tem como forçar isso, pois cada escola tem sua particularidade, sua pedagogia própria. O sindicato deve orientar filosoficamente, por isso deve trazer as escolas para o sindicato para ouvir. Aliás, o Paulino [atual presidente do Sinepe/MA] tem feito muito isso, faz seminários, traz oradores de fora e chama os diretores para estarem sempre se atualizando para acompanhar a evolução do mundo. Tem que atualizar para termos um mundo melhor do que temos hoje.
O sindicato deu um salto nesses últimos anos?
Sindicato não pode obrigar ninguém a filiar. Sindicato orienta para que as escolas façam o melhor. Já tivemos uma vez que denunciar uma escola ao Conselho de Educação porque ela estava fazendo algo absurdo. O sindicato deve zelar por uma qualidade de ensino.
Qual foi a maior conquista do sindicato na sua gestão?
Primeiro, foi reunir as melhoras escolas de São Luís. Sempre me queixei de não conseguir chegar naquelas pequenas, que mais precisavam de orientação. O papel do sindicato é esse fazer com que todas as escolas se tornem boas, dignas do nome de educadoras.
Qual o caminho que o senhor deseja que o sindicato trilhe?
Que possamos fazer o melhor pela educação, para que tenhamos cidadãos honestos e conscientes. Hoje, a gente vê alunos nossos ocupando cargos executivos e administrativos, e a gente deseja que isso seja feito com honestidade e dignidade. Acredito que a escola, por pior que seja, busca orientar da melhor forma possível. A escola não deve perder o sonho de educar.